Meu
pai sempre dizia: “filha vai estudar”!! Porque para ele um diploma
universitário abria portas. E sem dúvida, o mercado nos cobra isso, não só
conhecimento técnico, mas universitário. Mas para uma menina de 17 anos, isso
não era prioritário.
Lembro-me
bem da época do governo Collor, o tal congelamento da poupança, que levou
tantas empresas à falência e houve aquela demissão em massa.
Na
época eu exercia a função de Secretária Jr. numa empresa de Telecomunicações,
cursava a tão sonhada Faculdade de Psicologia, mas confesso que já no segundo
semestre do curso, não me sentia envolvida com aquilo tudo, com as ideias de
Freud, Piaget e outros mais. Adorava meus professores e certamente todas
aquelas disciplinas seriam muito úteis no decorrer da minha vida, e foram.
Não
faltava a nenhuma aula, mas ao invés de me aprofundar, achava que tudo aquilo
não combinava comigo e ficava sonhando com uma motocicleta, com a liberdade que
ela me traria, onde ela poderia me levar, as estradas, curvas, retas e o vento
no rosto...
Eu
era muito ingênua, inexperiente com o que eu almejava para o futuro.
Até
então, eu sempre havia trabalhado em escritório e achava que ter um Consultório
como Psicóloga e um divã moderno seria o máximo. Em verdade, na minha
ingenuidade genuína, eu acreditava que como Psicóloga eu iria mudar o mundo,
ajudar todas as pessoas, resolver os problemas delas, achava que seria meio
heroína, era essa a ideia que eu fazia dessa profissão na época, mas no
decorrer do curso, não me encontrei.
Cursei
02 anos de Faculdade, e ao final do segundo ano veio a crise, a empresa me
demitiu e meses depois faliu.
Arrasada,
porque adorava o trabalho, as pessoas, a equipe, os chefes, sim eu tinha dois,
fiquei meio sem chão.
Daí
então, um velho sonho antigo começou a me rondar as ideias, comprar uma
motocicleta...
Eu
recebi a indenização, o FGTS, mas ainda tinha no mínimo 02 anos pela frente
para terminar a faculdade, sem contar mais um ano de especialização.
O
que fazer? Brasil em crise, empresas falindo, demitindo, dinheiro trancado no
banco, recessão, esperei dois meses e nada, não consegui voltar ao mercado (eu
só tinha o Ensino Médio), não era formada, então eu seria a candidata no fim da
fila...
Depois
de muito ponderar os prós e contras, e com meus pais totalmente contra a minha
decisão, abandonei a Faculdade, tranquei o curso, e comprei uma motocicleta.
Lembro-me
como se fosse hoje a felicidade da realização do sonho, mas todo o sonho tem
seu preço. Enfim, comprei a moto, tinha acabado de tirar a sonhada habilitação
AB, podia pilotar sem medo, eu estava em dia com a legislação de trânsito.
Foram
meses de muita aventura, maluquices no bairro, eu era a única menina “dona” de
uma motocicleta no meio dos marmanjos, mas meu irmão também tinha moto, então
estava tudo certo.
A
adolescência é uma fase singular, acreditamos que podemos conquistar o mundo, e
podemos, mas meio desgovernadamente...
Foram
anos incríveis, mas anos sem pensar no futuro, sem planejamento profissional
(aí vem o preço que se paga pelas escolhas) então esteja preparado, para o
atraso de alguns anos na realização de seus ideais.
Posteriormente,
fui desenvolvendo uma carreira sólida na área Financeira, depois na área de
Marketing, encontrei meu lugar no mundo, no que me agregava de fato valor, o
que me realizava, o ambiente corporativo era meu dia a dia, finanças, vendas,
marketing, eu havia encontrado meu porto.
Enfim
voltei a estudar, conclui a tão sonhada Graduação, fiz uma Pós Graduação, mas
meu pai não viu eu me graduar, ele faleceu um ano antes.
Os
sonhos de adolescência às vezes são inconsequentes, e podem nos causar um certo
“atraso” na evolução da carreira, por isso sempre digo em meus treinamentos,
quando estou dando uma Consultoria para um time mais jovem, sonhar é sadio, mas
avalie primeiro todas as tuas decisões, se vão interferir positivamente ou não
em sua carreira. Projete-se primeiro e tente imaginar você daqui a 05 anos,
pergunte-se o quão as tuas decisões, as tuas escolhas irão interferir no seu
futuro, vale a pena? Só você poderá responder.
Mas
já dizia o poeta:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena...”
-Márcia
Christina Lio Magalhães-
Artigo publicado no IN Abril/2017