Hoje recebi uma carta, já estava meio amarrotada pela displicência de quem a deixou no portão, dois selos apenas trazia, um carimbo, um remetente, um endereço...
A princípio fiquei aflita em abri-la, com medo que seu conteúdo pudesse de algum modo quebrar o encanto das minhas ilusões e assim se procedeu...
A cada parágrafo lido, sentido, remetia-me a imagem do que era dito, em letras miúdas.
Quisera eu não tê-la lido, pois se tratava de fato de alguém que iria quebrar meus sonhos.
No cabeçalho trazia escrito em letras grifadas;
“7º Batalhão da Infantaria Francesa”, a saber:
__ Prezada Senhora:
Sou amigo íntimo e confidente de seu marido, que todas as noites confidencia-me sempre sobre o mesmo assunto V.Sa., dizia que tens os cabelos do sol, cacheados como as nuvens, que seus olhos eram infinitos como o mar, oscilando entre o azul e o verde das esmeraldas, que a pele era branca, macia como às pétalas das margaridas que sorriem na primavera. Que tinhas um olhar inquiridor, sempre a arquear as sobrancelhas, principalmente à esquerda, quando diante de um assunto que lhe causasse alguma dúvida ou um porém...
Que suas mãos não eram pequenas, nem grandes, de médio tamanho, firmes, dedos roliços. Que os ombros suportavam o mundo, pois tinham a firmeza e a delicadeza num equilíbrio sem igual.
Contou-me também que a Senhora gostava de falar com os passarinhos, e sempre dizia que eles a compreendiam, pois vez ou outra a visitavam assiduamente na janela do quarto ao amanhecer...
Disse meu bom amigo, que nunca conhecera pessoa tão bela, generosa, quanto a Senhora, e que sua beleza transcendia o material, era uma beleza n’alma, que desabrochava dia a dia de dentro para o exterior...
Contou-me ele, que também tinha mãos de fada, fazia o mais gostoso bolo de chocolate com nozes e avelãs, que não se resistia a comer só um pedaço...
E noites a fora, meu velho amigo contava-me a mesma estória.
Passei então a conhecê-la, pelas palavras e suspiros de seu bem amado.
__Mas deixemos essa conversa de lado, pois tenho que ater-me ao real motivo desta carta:
Passamos por um longo e nebuloso período de entraves, nesta guerra de insanos devaneios, e numa destas longínquas batalhas, entre vitórias momentâneas, meu estimado amigo - vosso marido - encontrou o sono eterno, através de uma bala traiçoeira, que feiticeira adentrou seu peito, fazendo-lhe dar um último suspiro. Tenho que indagar cara Senhora, que seu coração permaneceu intacto, pois a bala feriu-o no direito do peito, onde mora o vazio e não reside o coração...
(Márcia Cristina Lio Magalhães / Abril 2009)
A princípio fiquei aflita em abri-la, com medo que seu conteúdo pudesse de algum modo quebrar o encanto das minhas ilusões e assim se procedeu...
A cada parágrafo lido, sentido, remetia-me a imagem do que era dito, em letras miúdas.
Quisera eu não tê-la lido, pois se tratava de fato de alguém que iria quebrar meus sonhos.
No cabeçalho trazia escrito em letras grifadas;
“7º Batalhão da Infantaria Francesa”, a saber:
__ Prezada Senhora:
Sou amigo íntimo e confidente de seu marido, que todas as noites confidencia-me sempre sobre o mesmo assunto V.Sa., dizia que tens os cabelos do sol, cacheados como as nuvens, que seus olhos eram infinitos como o mar, oscilando entre o azul e o verde das esmeraldas, que a pele era branca, macia como às pétalas das margaridas que sorriem na primavera. Que tinhas um olhar inquiridor, sempre a arquear as sobrancelhas, principalmente à esquerda, quando diante de um assunto que lhe causasse alguma dúvida ou um porém...
Que suas mãos não eram pequenas, nem grandes, de médio tamanho, firmes, dedos roliços. Que os ombros suportavam o mundo, pois tinham a firmeza e a delicadeza num equilíbrio sem igual.
Contou-me também que a Senhora gostava de falar com os passarinhos, e sempre dizia que eles a compreendiam, pois vez ou outra a visitavam assiduamente na janela do quarto ao amanhecer...
Disse meu bom amigo, que nunca conhecera pessoa tão bela, generosa, quanto a Senhora, e que sua beleza transcendia o material, era uma beleza n’alma, que desabrochava dia a dia de dentro para o exterior...
Contou-me ele, que também tinha mãos de fada, fazia o mais gostoso bolo de chocolate com nozes e avelãs, que não se resistia a comer só um pedaço...
E noites a fora, meu velho amigo contava-me a mesma estória.
Passei então a conhecê-la, pelas palavras e suspiros de seu bem amado.
__Mas deixemos essa conversa de lado, pois tenho que ater-me ao real motivo desta carta:
Passamos por um longo e nebuloso período de entraves, nesta guerra de insanos devaneios, e numa destas longínquas batalhas, entre vitórias momentâneas, meu estimado amigo - vosso marido - encontrou o sono eterno, através de uma bala traiçoeira, que feiticeira adentrou seu peito, fazendo-lhe dar um último suspiro. Tenho que indagar cara Senhora, que seu coração permaneceu intacto, pois a bala feriu-o no direito do peito, onde mora o vazio e não reside o coração...
(Márcia Cristina Lio Magalhães / Abril 2009)
Eu não sei o que vc ainda está esperando para publicar seu primeiro livro...
ResponderExcluirLeitor assíduo, estarei humildemente na fila esperando a vez de receber uma dedicatória tua...
abraço de novo!
Pedro Saulo
''pois a bala feriu-o no direito do peito, onde mora o vazio e não reside o coração...'' que força de expressão esta!!!
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