Se te entrego todas as minhas palavras embrulhadas em tão fina seda, por que, então, desconfias das letras e exclamações?
Acaso avalias os fatos num tribunal de júri, onde o réu é condenado sem provas? Ora, não julgues aquilo que não entendes de fato, sabotando minhas convicções!
Se tu tens o coração fechado – por ter em algum momento da vida sido enganado, golpeado, traído, iludido – não aches que sempre será pego no encalço por tão traiçoeiro destino...
Soube que, há muito tempo, foi acometido a uma moça, se apaixonar por um belo cavalheiro. O mais intrigante é que ela só o conhecia por vê-lo passar frente a sua janela a cavalo, em direção à cidade, pois ambos moravam no campo.
Certo dia, a moça, enfrentando seus receios, colocou no meio do caminho uma cesta cheia de iguarias, esperando que o moço, quando visse a cesta, parasse para saber o que dentro havia.
Então, algo inesperado aconteceu...
Naquela manhã, estava a moça, como sempre, escondida pela cortina atrás da janela, esperando o misterioso cavalheiro, quando, de repente, o mesmo apareceu, montado em seu cavalo negro, de brilho azulado, galopando em direção à cidade. Vendo a cesta no meio do caminho – num impulso – puxou as rédeas com uma freada tão forte, que as patas da frente do cavalo ergueram-se assustadoramente. E diante daquele objeto, o que fez o cavalheiro?
Desconfiado, achando tudo muito intrigante – pois sempre por ali passava e nada parecido lhe acontecera – julgou o cavalheiro se tratar duma emboscada. Sequer olhou à direita de seus ombros, onde ficava a casa da moça da janela, e num golpe forte e temeroso apertou as esporas nas costelas de seu cavalo que, involuntariamente, arrancou em açoite dali.
A moça, entristecida diante do que acontecera, desceu e retirou a cesta do meio do caminho. O que ela não pressentia, que no outro dia, na hora marcada pelo poente, que sempre o cavalheiro por ali passava, nada aconteceu. Desconsolada, e sem entender o destino, foi lamentar-se à beira de um velho ipê florido, que fazia sombra à sua casa, em direção ao norte da estrada...
Nesse momento, um beija-flor descuidado estava voando abaixo da fronte da triste donzela. Ficou todo encharcado com as lágrimas e lhe confidenciou:
- Senhorita, sua intenção não foi compreendida pelo cavalheiro solitário que, diante da cesta em seu caminho, achou se tratar duma emboscada... Hoje mesmo o encontrei na estrada, mudou seu caminho e, em direção à cidade, agora segue pelos trilhos do trem, que mesmo sendo um trajeto mais distante, em seu íntimo acredita ele, tratar-se mais seguro, pois conhece muitíssimo a região e nunca soube de encontrarem por lá, cestas nos trilhos!
E sendo assim, a moça, desconsolada, deixou de ficar à janela a suspirar pelo seu bem. Nunca mais se ouviu falar daquele cavalheiro por aquelas bandas, pois jamais fora visto na estrada, onde hoje só mora a saudade e os pássaros nunca cantam...
Entretanto, dizem os velhos daquele lugar distante, que em noites de lua cheia, após a meia-noite, é possível ver na estrada um beija-flor pairando sob uma cesta repleta de singelas margaridas...
(Márcia Christina Lio Magalhães)
Conto do Livro Poetar é Preciso - Re-editado
Conto do Livro Poetar é Preciso - Re-editado
histórias de princesas e cavaleiros sempre encantam,
ResponderExcluirbeijo
Tão belo conto, um encanto!
ResponderExcluirtalvez a lua cheia ilumine e guie o cavalheiro até ao coração da sua apaixonada e a rua da saudade se torne a rua do amor com perfume de margaridas, onde ainda cantam os passarinhos :-)
Beijo Márcia!
Verdade Assis... :-)
ResponderExcluirAndy minha querida, palavras pétalas as tuas!
ResponderExcluirFeliz em tê-la aqui...
beijo no coração!
Marcia: lindo texto e com uma linda historia de uma moça a janela a espera do seu cavaleiro andante que nunca quis saber da bela menina.
ResponderExcluirBeijos
Santa Cruz
Que bom que gostou amigo Santa Cruz...
ResponderExcluirCarinhoso abraço,
"A moça, entristecida diante do que acontecera, desceu e retirou a cesta do meio do caminho. O que ela não pressentia, que no outro dia, na hora marcada pelo poente, que sempre o cavalheiro por ali passava, nada aconteceu. Desconsolada, e sem entender o destino, foi lamentar-se à beira de um velho ipê florido, que fazia sombra à sua casa, em direção ao norte da estrada..." Muito emocionante , que encontro bom essas palavras hoje
ResponderExcluirFeliz em tê-lo por aqui Ediney, seja muito bem vindo!!
ResponderExcluirEncontro bom também são estas:
"Meus pés são essas asas
que nunca
tocaram nuvens,
flamboyants mergulhados
nesta língua
doce-sal, maravilha do
acaso no revelar
nudez desses meus olhos."
(Ediney Santana)