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São Paulo, SP, Brazil
A poesia é água cristalina, sacia a sede, alimenta o espírito. Já não posso mais dizer se ela quem me habita ou o contrário. Como explicar sobre? A escrita é uma lâmina afiada, um vulcão, ou apenas ilha de águas mornas, banha pés descalços... Nunca quis definir a poesia, melhor esquecer-se das explicações. Escrever passou a ser janela exposta, que por hora, mantêm-se aberta ao mundo de quem lê. *** Mineira/Paulistana/ Poeta, Escritora, Administradora de Empresas, Pós Graduada em Gestão Empresarial. Laureada com o III Prêmio Canon de Literatura e Poesia em 2010. Márcia Christina Lio Magalhães é Sócia-Fundadora da Academia de Letras Juvenal Galeno, onde ocupa a Cadeira nº 10. Diretora de Relações Culturais da ALJUG. Membro da ACE - Associação Cearense de Escritores. Este Blog é dedicado a todos os amantes da poesia e que possamos através dela, unir horizontes, atravessar oceanos, iluminar os corações, alegrar os solitários, apaziguar a alma, multiplicar as amizades, eternizar as emoções. Sejam bem vindos!*** Livros Publicados: POETAR É PRECISO - 1° edição 2010 ** A PELE QUE HABITO - 1° edição 2013.

15 de dez. de 2009

Sou como a brisa que acolhe as lágrimas
Pois que também as estrelas choram de saudade...

Sou um deserto, quieto, sólido, feiticeiro
Que entre rochas fere chão, céu e mar

E a solidão é meu algoz, frágil veleiro
Navega pois na escuridão sem navegar...

A frágil face recebe o beijo da magnólia
Enquanto asas dão rumo ao norte o seu destino

São labirintos o que a saudade desenha em mim
É fogo ardente o coração desse menino...

Espreitai-me a morte, tão sutilmente e disfarçada
Sinto na espinha, lâmina fria, fugaz adaga

O peito inerte, mãos fraquejando, imensidão
Último gesto, descansa a pena sob um coração...

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

14 de dez. de 2009

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
é condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

(Florbela Espanca)

9 de dez. de 2009

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

(Cora Coralina)

27 de nov. de 2009

Música também é Poesia...



Escada para o Céu

Há uma mulher que tem certeza [que]
Tudo que reluz é ouro,
E ela está comprando uma escada para o Céu...
Quando ela chegar lá, ela sabe [que]
Se as lojas estiverem todas fechadas,
Com uma palavra ela pode conseguir aquilo pelo que veio.
E ela está comprando uma escada para o Céu...

Existe um sinal na parede
Mas ela quer ter certeza,
Pois você sabe, às vezes as palavras têm dois sentidos.
Numa árvore perto do riacho
Tem um pássaro canoro que canta,
Às vezes, todas os nossos pensamentos estão apreensivos.
Ooh, isso me faz pensar,
Ooh, isso me faz pensar...

Tem uma sensação que sinto
Quando olho para o oeste
E meu espirito está implorando para ir embora.
Em meus pensamentos eu tenho visto
Anéis de fumaça através das árvores
E as vozes daqueles que permanecem olhando.
Ooh, isso me faz pensar,

E foi susurrado que em breve,
Se nós todos invocarmos a melodia,
Então o flautista nos conduzirá até a razão.
E um novo dia vai amanhecer
Para aqueles que resistem há muito tempo,
E as florestas vão ecoar com risos...

Se tem um tumulto na sua cerca
Não fique alarmado agora,
É apenas uma limpeza de primavera para a rainha de Maio.
Sim, existem dois caminhos que você pode seguir,
Mas no final das contas,
Ainda há tempo para mudar a estrada em que você está.
E isso me faz pensar...

Sua cabeça está zunindo e não vai passar,
No caso de você não saber
O flautista está te chamando para juntar-se a ele.
Querida dama, você consegue ouvir o vento soprar?
E você sabia [que]
Sua escada jaz no vento murmurante?

E enquanto nós damos voltas descendo pela rua,
Nossas sombras mais altas que nossas almas,
Por lá caminha uma mulher que nós todos conhecemos,
Que brilha com luz clara e quer mostrar
Como tudo ainda transforma-se em ouro.
E se você prestar atenção muito atentamente,
A melodia chegará até você finalmente.
Quando todos serão um e um será tudo,
Para ser uma pedra e não rolar.

E ela está comprando uma escada para o Céu...

26 de nov. de 2009

O Tempo

"O tempo é apenas o limiar dos segundos
d'onde esconde sob o piscar de olhos dos anjos
a chave que abre qualquer porta...

Pois que ao passado foi dado a chance de ser
Ao presente de ter
E ao futuro de permanecer...

Ao que parece, o dia é senhor das ações
Pois o que foi dito ficará marcado
O que foi vivido será lembrado
O que foi perdido, que seja perdoado...

Guardai as alegrias numa caixinha de prata
E deixai as lágrimas na correnteza do rio..."

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

25 de nov. de 2009

Etapas

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final…
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos.
Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu….

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora…
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja),destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração… e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa – nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te: Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão...

Roubei esse texto do Blog do meu amigo Alvarenga o qual indico a leitura sempre!
http://legalvarenga.blogspot.com/

16 de nov. de 2009

"A ausência marca muito maior presença nos olhos que a própria presença!
Porque o ausente dos olhos está sempre presente no coração.
Mas o presente dos olhos, nem sempre está presente no coração..."
(Jurandir Moreira Magalhães)



"Melhor viagem se faz quando um trem jamais sai dos trilhos.
Pois que a felicidade está em chegar sempre inteiro!
(M.C.L.M)

14 de nov. de 2009

Os Poemas

Os poemas não nascem selados
Eles cantam, dançam, voam
Tantas vezes inebriando as margens
das páginas de quem os escreveu...

Estes poemas não me pertencem
Nasceram livres,
Fiéis aos olhos de cada continente
Onde lançam âncoras silenciosas...

Estes poemas são flores
no vaso, no campo, nos barcos
Estes poemas são teus.

É qualquer alquimista a meia noite
É uma vela na soleira da porta
São segredos do deserto meu.

Com o passar dos anos
Escorre a tinta pelas mãos
Éter, fogo, asa ritmada
Este poema vaga
Sob a luz
de um velho lâmpião...

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

13 de nov. de 2009

"Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começa-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto."

(Carlos Drummond de Andrade)

10 de nov. de 2009

4 de nov. de 2009

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E sei que um dia estarei mudo:
- mais nada.

(Cecília Meireles)

3 de nov. de 2009

Melodramma

Soneto XXII

S' amor non è, che dunque è quel ch' io sento?
Ma s'egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond' è si dolce ogni tormento?

S'a mia voglia arado, ond' è 'I pianto e 'I lamento?
S'a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s'io nol consento?

E s'io 'I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trivo in alto mar, senza governo,

Sí lieve di saber, d'error sí carca,
Ch' i i' medesmo non so quel ch' io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardemdo il verno.


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Soneto XXII

Se amor não é qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que cousa é a tal?
Se boa por que tem ação mortal?
Se má por que é tão doce o seu tormento?

Se eu ardo por querer por que o lamento?
Se sem querer o lamentar que val?
Ó viva morte, ó deleitoso mal,
Tanto podes sem meu consentimento.

E se eu consinto sem razão pranteio.
A tão contrário vento em frágil barca,
Eu vou para o alto mar e sem governo.

É tão grave de erro, de ciência é parca
Que eu mesmo não sei bem o que eu anseio
E tremo em pleno estio e ardo no inverno.

(Petrarca)

Do livro: Cancioneiro -Tradução de Jamil Almansur Haddad

15 de out. de 2009

O Amor

E alguém disse:
Fala-nos do Amor:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão se estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.

(Khalil Gibran)

13 de out. de 2009

Tu Tens Um Medo

Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.

(Cecília Meireles)

1 de out. de 2009



"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

(Fernando Pessoa)

18 de set. de 2009

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes e com tal zelo, e sempre e tanto
que mesmo em face do maior encanto
dele se encante mais meu pensamento.

Quero vive-lo em cada vão momento
e em seu louvor hei de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou ao seu contentamento.

E assim quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angustia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive).

Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinicius de Moraes)

16 de set. de 2009

A Vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo Pedro sem
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!

(Florbela Espanca)

12 de set. de 2009

Noções

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.
Descem pela água
minhas naves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar,
e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas
que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é minha alma:
Qualquer coisa que flutua
sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia
passiva e inúmera...

(Cecília Meireles)

31 de ago. de 2009

Quero Saber

Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim
alcançaremos a incomunicação;
por fim ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar por fim,
não introduzir mercadorias como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
como te dou o meu com uma condição:
não nos compreender...

(Pablo Neruda)

27 de ago. de 2009

Essas mágicas estrelas
no limiar do firmamento
parecem acender a chama
dos prantos do meu lamento

Outrora queixei-me a elas
que o amor era um viajante
armou-me uma cilada
partiu, não deixou bilhetes...

Ah! Funesta noite!
Que fere as lágrimas do coração
fito as estrelas, e o abismo
que separa a dor
desta solidão!

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

25 de ago. de 2009

Utopias

"Muitas são as vezes
que é melhor morrer e depois acordar
diante de corações ausentes
das mãos que não podem ser
de olhos cegos à brisa que perdeu seu norte..."

(Márcia Cristina Lio Magalhães)
Sábias agudezas... refinamentos...- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver
e não saiba preparar-te para a morte, não tem sentido:
é um pobre chocalho de palavras.

(Mario Quintana)

19 de ago. de 2009

Rua do Olhar

Entre tantas ruas
Que passam no mundo
A Rua do Olhar,
Em Paris, me toca.

Imagino um olho
Calmo, solitário,
A fitar os homens que voltam cansados.

Olhar de perdão
Para os desvarios,
De lento conselho
E cumplicidade.

Rua do Olhar:
As casas não contam,
Nem contam as pedras,
Inertes no chão.

Só conta êsse olho
Triste, na tarde, percorrendo o corpo,
Devassando a roupa...


(Carlos Drummond de Andrade)

14 de ago. de 2009

O Silêncio

"Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós.
A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, não quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema.
O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio..."

(Mario Quintana)

8 de ago. de 2009

"A melhor maneira de fazer amigos
é mostrando-se como verdadeiramente somos
Sem máscaras, sem ouro, sem prata!"

(M.C.L.M)

5 de ago. de 2009

Soneto à Tua Volta

Voltaste, meu amor... enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho....
A flor de outrora refloresce na haste

que pendia sem vida em meu caminho...
Obrigado...
Eu vivia tão sozinho...

Que infinita alegria e que contraste!
Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!

Voltaste... E dou-te logo este poema simples e humilde
repetindo um tema da alma humana esgotada e envelhecida....
Mil poetas outras voltas celebraram, mas, que importa?
– se tantas já voltaram

só tu voltaste para a minha vida...

(J.G. de Araújo Jorge)

29 de jul. de 2009

É Preciso Não Dizer Nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,

o nosso nome, o som da nossa voz,
o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer

é o dia carregado de atos, a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos,

vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.

(Cecília Meireles - 1962)

24 de jul. de 2009

Nos Salões do Sonho


Mas vocês não repararam, não?!
Nos salões do sonho nunca há espelhos...
Por quê? Será porque somos tão nós mesmos
Que dispensamos o vão testemunho dos reflexos?
Ou, então - e aqui começa um arrepio -
Seremos acaso tão outros?
Tão outros mesmos que não suportaríamos a visão daquilo
Daquela coisa que nos estivesse olhando fixamente do outro lado, se espelhos houvesse!
Ninguém pode saber...
Só o diria
Mas nada diz,
Por motivos que só ele conhece,
O misterioso Cenarista dos Sonhos!
(Mario Quintana)

13 de jul. de 2009

As Rosas Não Falam...


Bate outra vez, com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão...Emfim
Volto ao jardim
Com a certeza de que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
Para mim
Queixo-me as rosas mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E quem sabe sonhavas meus sonhos
Por fim
(Cartola)

29 de jun. de 2009

"Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira do poço da sombra
e pescar luz caída com paciência."

(Pablo Neruda)

26 de jun. de 2009

Um pedacinho de Drummond...

"...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros.
Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize
e consume com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta,
sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito

elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo."

(Carlos Drummond de Andrade)

20 de jun. de 2009

17 de jun. de 2009

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.
(Cecília Meireles)

12 de jun. de 2009

9 de jun. de 2009

"O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você.
Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus.
É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável.
Tentar dizê-la é o labor do poeta."

(Adélia Prado)

5 de jun. de 2009

A Vida


É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo" Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!


(Florbela Espanca)

29 de mai. de 2009

Infinitamente Ausente

Não mais a mansidão do teu gesto,
não mais a humildade dos teus passos,
nem o pudor da tua voz, que nunca se elevou
num grito - de dor, de contentamento ou de cólera,
nem o morrediço olhar de resignação,
nem os vestígios últimos da minha infância fechados na tua mão.
Estou triste sem fim, mas tenho a lucidez de uma noite de insônia.
(O canto dos galos - aqui, ali, além, acolá -
torna mais longínquas todas as distâncias
e aumenta o longo penar da lívida madrugada.)
Nenhuma ilusão mais:
estás infinitamente ausente,
e sei onde estás, e como estás,
e sei que tudo continua igual na mesma terra, sob o mesmo céu.
(Quisesse Deus, cristalizado o sal das lágrimas,
engrandecer-me o coração
para eu cumprir finalmente a sua dor
sem ter e sem rogar consolação...)
Graça imóvel de tuas mãos serenas.
Quietude das pálpebras sobre os lhos apagados.
Serenidade do suspiro da vida no seu fim.
Tinha um pálido calor sem esperança
teu braço triste, quando o toquei cegamente.
É ainda nos restos das lembranças do teu fantasma
pensativo que é preciso, de bruços, pesadamente,
recomeçar a viver.
(Abgar Renault)

27 de mai. de 2009

Olha

"Quando o teu olhar é o meu olhar
Como se olha o céu
Quando o teu olhar é teu
Posso olhar no olhar como o meu
E aprender um pouco mais
Do teu olhar no meu
E aprender um pouco mais do que
Há de mim em teu olhar quando
Me olhas assim a todo instante
Sinto o que vejo de tão belo
E precioso em teu olhar de paz e vulcão
Faz sorrir a alma e explodir o coração
Num rio silencioso
Quando o teu olhar sorri e canta
Encanta para mim um canto novo
Um pranto lindo para retribuir
A imensa alegria de poder te olhar
Como se olha para Deus
Em cada manhã de cada coisa
Que brota inteira no mundo
Só para te olhar como eu..."

(Geraldo Maia)

24 de mai. de 2009

Ah! Os Relógios


"Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são..."


(Mário Quintana)

22 de mai. de 2009

LIVE - Heaven

Nos Bosques, Perdido


Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro
E aos lábios, sedento, levante seu sussurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino quebrado ou um coração partido.
Algo que de tão longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um gruto ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e úmida treva das folhas.
Porém ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
E seu odor errante subiu para o meu entendimento
como se, repentinamente, estivessem me procurando

as raízes que abandonei,
a terra perdida com minha infância,
e parei ferido pelo aroma errante.
Não o quero, amada.
Para que nada nos prenda
para que não nos una nada.
Nem a palavra que perfumou tua boca
nem o que não disseram as palavras.
Nem a festa de amor que não tivemos
nem teus soluços junto à janela...

(Pablo Neruda)

19 de mai. de 2009

Murmúrio


"Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.

Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.

Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!"


(Cecília Meireles)

13 de mai. de 2009

Essa música é poesia para os ouvidos...

De onde é que vem esses olhos tão tristes?
Vem da campina onde o sol se deita.
Do regalo de terra que teu dorso ajeita.
E dorme serena, no sereno e sonha.

De onde é que salta essa voz tão risonha?
Da chuva que teima, mas o céu rejeita.
Do mato, do medo, da perda tristonha.
Mas, que o sol resgata, arde e deleita.

Há uma estrada de pedra que passa na fazenda.
É teu destino, é tua senda.
Onde nascem tuas canções.
As tempestades do tempo que marcam tua história
Fogo que queima na memória
E acende os corações.

Sim, dos teus pés na terra nascem flores.
A tua voz macia aplaca as dores
E espalha cores vivas pelo ar.
Sim, dos teus olhos saem cachoeiras.
Sete lagoas, mel e brincadeiras.
Espumas, ondas, águas do teu mar.

(Paula Fernandes)

7 de mai. de 2009

Amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais este e aquele, o outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder...pra me encontrar...

(Florbela Espanca)

5 de mai. de 2009

"Não se escondas por trás das palavras
à sombra de sentimentos não revelados
Pois que o sol brilha até nos recônditos
mais longínquos onde habita o coração..."


(Márcia Cristina Lio Magalhães)

4 de mai. de 2009

Vivere - Andrea Bocelli

Desencontros

Não quero passar pela vida à sombra do que não se viveu...
Qualquer que seja o motivo, ele não era meu!
Quero calar a voz, silenciar uma lágrima, enganar o tempo
Só não quero viver um lamento à beira do pôr do sol.

Até uma tarde fria de outono tem sua beleza
É preciso olhar com os olhos do vento
Sentir com o coração de beija-flor...

Não há como aprisionar o mar, ele é tão imenso.

Coloco a seus pés, todas as estrelas
Ainda que os anjos, queiram me interrogar
Meu coração é forte, já desafiou a morte
Faz parar o tempo, cessem os relógios
É hora de partir
Apaguem o céu!


(Márcia Cristina Lio Magalhães)

1 de mai. de 2009


"A amizade é um amor que nunca morre."
(Mário Quintana)

29 de abr. de 2009

Amizade


É ter um colo nas noites frias de solidão...
É você poder falar tudo o que sente, sem medo de ser julgado.
Costumo dizer que:
__ quem tem um amigo não precisa de Psicólogos.
Nada contra estes profissionais técnicos, mas se temos um amigo verdadeiro, porque não dizer a ele o que sentimos, ao invés de falar com um estranho?
Ser amigo é doar os ouvidos, ainda que seja no meio da madrugada, quando se chora por amor...
Amigo é aquele que lembra do seu aniversário, liga, manda um sms, ou se esquece, e um mês depois vem todo envergonhado dizer algo, e nós perdoamos.
Amizade começa na infância, geralmente quando não temos bicicleta ele chega de mansinho oferece a dele, nos ensinando a pedalar.
Amigo é aquele que divide o lanche no jardim da infância e desenha a gente de mãos dadas sorrindo, numa paisagem que tem sol, árvore, casa, cachorro, flores, pai, mãe, irmãos...
Amigo é aquele que diz as mentiras mais verdadeiras, só pra não nos magoar...
E quando estamos diante de verdades absolutas que nos apunhalam o peito, esta lá o amigo segurando as nossas mãos...
Daí crescemos, vamos passando pela vida, pela puberdade, adolescência, faculdade, formatura, ele sempre do nosso lado, com um sorriso largo, em punho o diploma dizendo:
“você viu, nem foi tão difícil assim nós conseguimos!”
O que dizer então daquele amigo “virtual”?
Um ser que nunca tocamos, não olhamos nos olhos, não tomamos uma deliciosa xícara de café num outono cinzento, ou ainda nem tivemos oportunidade de tomar um chopp, jogar conversa fora, à beira de uma mesa num barzinho qualquer...
Não tivemos chance de dividir um churrasco no domingo, ouvindo rock em roll dos anos 70, relembrando como era bom a vida há 20 anos atrás...
Ah, mas esse amigo cibernético é especial!
Apesar da frieza de uma tela de computador, a gente sabe que do outro lado tem um coração, sempre a nos dedicar palavras de incentivo, apoio.
Trocamos experiências, falamos de música, família, amores, política, religião, poesia...
Como esses amigos são fundamentais.
Após um tempo de convivência, percebemos que mesmo a distância que nos separa do mundo dito real, temos tantas semelhanças, cumplicidades, que passamos de imediato a admirá-los, a torcer por eles, ficamos preocupados
se estão bem ou não...
Eles com o tempo vão fazendo parte da nossa vida, pois uma tela em branco desenhando letras, são só detalhes nesse mundo digital!
Portanto, a todos os meus amigos, virtuais ou não, agradeço cada letra, cada tempo dedicado a manter essa amizade viva, pulsante, alegre, otimista. Agradeço por fazerem parte da minha vida, ainda que a distância, por esta tela de computador possa parecer para muitos irremediavelmente fria, eu vos afirmo:
__ Feliz o mortal que inventou esta máquina, pois através dela:
recebo sorrisos,
distribuo abraços,
mando entregar flores,
viajo de trem, barco,
mergulho em ideias,
atravesso o mar,
ouço os passarinhos,
sobrevoou as cidades,
ruas, países,
aprendi a dançar,
troco experiências,
deixo escapar uma lágrima,
balbucio palavras,
semeio a terra da imaginação,
onde florescem flores,
de uma árvore centenária
chamada Amizade...
Que nos emociona
Nos cede a sombra
Nos impulsiona
a enfrentar a vida,
dia após dia
"com esse comboio de corda
que se chama coração..."

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

28 de abr. de 2009

"Mas a saudade às vezes faz bem ao coração.
Valoriza os sentimentos, acende as esperanças
e apaga as distâncias. Quem tem um amigo,
mesmo que um só, não importa onde se encontre,
jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades,
mas não estará só."

(Trecho do Livro: Cem Dias Entre o Céu e o Mar
Autor: Amyr Klink - pag. 147)

24 de abr. de 2009

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive ):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinícius de Morais)

23 de abr. de 2009

Frases...

"Triste é bater à porta de um coração
que pela fresta lhe informa
já estar ocupado..."


"Não há estratégia perfeita
diante de um coração desarmado!"


"Nem sempre os lábios refletem
o que no íntimo diz o coração..."


"Não vou deixar de ser quem sou
Só para satisfazer as massas.
Ser autêntico custa caro, eu que o diga!"

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

Learning To Fly - Pink Floyd

20 de abr. de 2009

Vem por aqui...

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira)

18 de abr. de 2009

Segredo

Quase sem querer
A moça se desculpa
Diz não saber
Responde ao coração

E ele insistindo
Questiona de novo
Pois sangra a ferida
Que tarda a doer

E mesmo perdida
A moça declama
Afirma, não ama
Querendo esquecer...

Aos olhos do mundo
Tropeça nas letras
Se engana na chama
Que teima em arder

Mas mesmo baixinho
O coração sussurra
Que a lágrima perdida
Contou-lhe um segredo

Que a tempos ela guarda
No esquerdo do peito
O amor de outrora
Que não pôde ter...


(Márcia Cristina Lio Magalhães)

17 de abr. de 2009

Relicário

É uma índia com colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o A de que cor?

O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar
Onde eu não vou

O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso deste amor

Sobe a lua porque longe vai?
Corre o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por esta noite

Porque está amanhecendo?
Peço o contrario, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente dura: o futuro amor
Eu sou a chuva pra você secar
Pelo zunido das suas asas você me falou

O que você está dizendo?
Milhões de frases sem nenhuma cor,
O que você está dizendo?
Um relicário imenso deste amor

O que você está dizendo?
O que você está fazendo?
Por que que está fazendo assim?
...está fazendo assim?

(Nando Reis)



16 de abr. de 2009

Se te pareço

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(Hilda Hilst)

7 de abr. de 2009

Chuva

Hoje chove muito, muito,
e parece que estão lavando o mundo.
Meu vizinho do lado contempla a chuva
e pensa em escrever uma carta de amor
uma carta à mulher que vive com ele
e cozinha para ele e lava a roupa para ele
e faz amor com ele, e parece sua sombra
meu vizinho nunca diz palavras de amor à mulher
entra em casa pela janela e não pela porta
por uma porta se entra em muitos lugares
no trabalho, no quartel, no cárcere,
em todos os edifícios do mundo mas não no mundo
nem numa mulher, nem na alma, quer dizer,
nessa caixa ou nave ou chuva que chamamos
assim como hoje, que chove muito
e me custa escrever a palavra amor
porque o amor é uma coisa
e a palavra amor é outra coisa
e somente a alma sabe onde os dois se encontram
e quando, e como
mas o que pode a alma explicar?
por isso meu vizinho tem tormentas na boca
palavras que naufragam
palavras que não sabem que há sol
porque nascem e morrem na mesma noite em que amou
e deixam cartas no pensamento que ele nunca escreverá
como o silêncio que há entre duas rosas...
ou como eu, que escrevo palavras para voltar
ao meu vizinho que contempla a chuva
à chuva ao meu coração desterrado...

(Juan Gelman)

2 de abr. de 2009

"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas
do que é possível fazer sentido.
Eu não: quero é uma verdade inventada."

(Clarice Lispector)
"Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço."

(Clarice Lispector)

1 de abr. de 2009

Música também é poesia...

Só Hoje

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito
Nem que seja só pra te levar pra casa
Depois de um dia normal...
Olhar teus olhos de promessas fáceis
E te beijar a boca de um jeito que te faça rir
(que te faça rir)

Hoje eu preciso te abraçar...
Sentir teu cheiro de roupa limpa...
Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz!

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua!
Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria...
Em estar vivo.

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar...
Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia...
Que eu faço tudo errado sempre, sempre.

Hoje preciso de você
Com qualquer humor, com qualquer sorriso
Hoje só tua presença
Vai me deixar feliz
Só hoje

(Jota Quest)

28 de mar. de 2009

Que me dera o sol
o vento ou um pouco de brisa
Um contentamento
uma poesia
um sorriso, um afago...
Que me dera o mar e todo o seu alento,
dá-me tão somente o som de uma nota fria...

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

27 de mar. de 2009

Diálogos - Romeo & Juliet

ROMEU - (a Julieta) - Se minha mão profana o relicário em remissão aceito a penitência: meu lábio,
peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.
JULIETA - Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos
pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente.
ROMEU - Os santos e os devotos não têm boca?
JULIETA - Sim, peregrino, só para orações.
ROMEU - Deixai, então, ó santa! que esta boca mostre o caminho certo aos corações.
JULIETA - Sem se mexer, o santo exalça o voto.
ROMEU - Então fica quietinha: eis o devoto. Em tua boca me limpo dos pecados.
(Beija-a.)
JULIETA - Que passaram, assim, para meus lábios.
ROMEU - Pecados meus? Oh! Quero-os retornados. Devolve-mos.
JULIETA - Beijais tal qual os sábios.


(Shakespeare)

25 de mar. de 2009

Andre Rieu

Romeu - Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo.
(Julieta aparece na janela.)
Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e
mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és
mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal,
verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala;
contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito
ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos
olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto
os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como o
dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos,
cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar
naquela face!
Julieta - Ai de mim!
Romeu - Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha
fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais
atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar
sereno.


Trecho da obra: Romeu e Julieta
(Autor: Shakespeare)

24 de mar. de 2009

Vôo

"Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores,
as palavras voam.
Bando azul de andorinhas,
bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.

Voam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos
como negros abutres,
as palavras voam.

Oh! Alto e baixo
em círculos e retas acima de nós,
em redor de nós
as palavras voam.
E às vezes pousam."

(Cecília Meireles)

17 de mar. de 2009

Ainda não parei pra pensar no que escrevo
Só me atrevo a desenhar letras
unindo-as numa complexidade de emoções...


(Márcia Cristina Lio Magalhães)

11 de mar. de 2009

Este amor que sinto hoje
amor que acelera o coração
não é mito, euforia, desespero
ele só transborda e inunda minha vida inteira!

(Márcia Cristina Lio Magalhães)

3 de mar. de 2009

Eu e o Mar

Calmo mar
Poesia deserta
Saudade do mar
Ilusão incerta
Olhos que vagam

O mar a noite
Espera vazia
Esperança tardia
Das dores do mar

Me olha mar
Me sente mar
Me ouve mar
Me chama o mar

Coração estremece
Rudeza da vida
Noite esquecida
Brisa que passa

Vejo o espelho
Sem imagem
Lembro do mar
Que me sorri e me afaga

Olho novamente
Derrepente a imagem
Eu sou o mar
Profundo
Sozinho
Chorando em silêncio...

24 de fev. de 2009

O amor

E alguém disse:
Fala-nos do Amor:
Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.
E quando vos falar, acreditai nele;apesar de a sua voz poder quebrar os vossos sonhos como o vento norte ao sacudir os jardins.
Porque assim como o vosso amor vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura e acaricia os ramos mais frágeis que tremem ao sol, também penetrará até às raízes sacudindo o seu apego à terra.
Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.
Então entrega-vos ao seu fogo, para poderdes ser o pão sagrado no festim de Deus.
Tudo isto vos fará o amor, para poderdes conhecer os segredos do vosso coração, e por este conhecimento vos tornardes o coração da Vida.
Mas, se no vosso medo, buscais apenas a paz do amor, o prazer do amor, então mais vale cobrir a nudez e sair do campo do amor, a caminho do mundo sem estações, onde podereis rir, mas nunca todos os vossos risos, e chorar,mas nunca todas as vossas lágrimas.
O amor só dá de si mesmo, e só recebe de si mesmo.
O amor não possui nem quer ser possuído.
Porque o amor basta ao amor.
E não penseis que podeis guiar o curso do amor; porque o amor, se vos escolher, marcará ele o vosso curso. O amor não tem outro desejo senão consumar-se.
Mas se amarem e tiverem desejos, deverão se estes: Fundir-se e ser um regato corrente a cantar a sua melodia à noite.
Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor, e sangrar de bom grado e alegremente.
Acordar de manhã com o coração cheio e agradecer outro dia de amor.
Descansar ao meio dia e meditar no êxtase do amor.
Voltar a casa ao crepúsculo e adormecer tendo no coração uma prece pelo bem amado, e na boca, um canto de louvor.

(Khalil Gibran)

22 de fev. de 2009

Lembranças

Os teus olhos são como rios de água cristalina
a penetrar todo o meu ser, despindo-me

A minha paz, não é a paz do deserto
mas a paz dos rochedos abraçados pelo mar

Se o meu amor fosse medido em distâncias
poderia dizer que passei por júpiter sem escalas

Não quero a eternidade insensata
Quero a lucidez do instante que passa...


(M.C.L.M)

20 de fev. de 2009

Amar

Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados
desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada
nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.

(M.Quintana)

Confissão

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas, em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

(M.Quintana)